“QUEM TEM ALMA, NÃO TEM CALMA!” TDAH PELAS NARRATIVAS DE MÃES EM GRUPOS DO FACEBOOK

Resumo

O presente estudo tem como tema as narrativas das mães de crianças e jovens que possuem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) nos espaços públicos das mídias sociais digitais, em específico, os grupos do Facebook – objeto do estudo. Trata-se, inicialmente, de grupos criados por mães, para compartilhamentos de informações e experiências sobre o TDAH e o cotidiano de seus filhos. A partir de uma escuta sensível das narrativas postadas, este trabalho é desenvolvido com o objetivo de compreender como os espaços virtuais dos grupos do Facebook contribuem para as mães, bem como constituem-se em local fértil para problematizações, saberes, fazeres, memória e (re)existência – aposta desta pesquisa. Especificamente, os objetivos foram elaborados no sentido identificar o espaço de fala, percebido como espaço socio-relacional muitas vezes rasos, como espaços também potentes para produção, conhecimento, experiência e memória. Chamamos atenção para este espaço enquanto acervo imensurável em tamanho – tendo em vista sua natureza virtual – e em importância para a memória coletiva dessas mães que, na fronteira do indizível, agora encontram um espaço não somente audíveis, mas também aberto ao mundo, onde podem gritar suas dores, frustrações, conquistas, sentimentos e vida, que talvez não fosse possível por outros meios, tampouco contada pela história. Identificar também se há formação ou existência identitária, enquanto mães de TDAH, como potência de suas falas e de (re)existência. Com o pensamento acadêmico sobre memórias, experiências e saberes outros, os procedimentos metodológicos adotados fundamentam-se em uma abordagem qualitativa, tendo a bibliografia decolonial e as sensibilidades de Walter Benjamin, como instrumento de análise e diálogo com as mães, que será feito na forma de mônadas, adotando a perspectiva de Walter Benjamin, autor que rompe com a linearidade histórica, pois entende que a realidade é descontínua, que são redes de pegadas que entrelaçam-se umas às outras. Autor que percebe as sensibilidades, as potencias das narrativas, imagens, fotografias, memórias e toda produção daqueles que geralmente tem suas vozes emudecidas. Neste sentido, serão analisadas, acompanhadas e “ouvidas” as narrativas de dois grupos do Facebook. O primeiro é “Mães de filhos com TDAH” - grupo com 11 mil membros, no qual o foco das postagens e discussões são os relatos sobre as dificuldades enfrentadas, o árduo percurso até o diagnóstico, a dúvida sobre se tal medicamento trará solução para os problemas até então enfrentados, TDAH associado a outros transtornos e doenças, entre outros. E segundo, “Mãe de Pessoa com TDAH”, com um número expressivamente maior de seguidores em relação ao primeiro, tem 30 mil membros e possui dinâmica parecida ao outro grupo de mães. Tem-se acompanhado os grupos desde junho de 2020 e pretende-se coletar postagens até o final deste ano para finalizar o ciclo de 6 meses, período a qual entende-se suficiente para compreender a dinâmica do grupo. O estudo possibilitará refletir criticamente sobre o que é produzido nos grupos de Facebook, mas sobretudo na decolonização desses espaços virtuais, narrativas e memórias, que também educam, ensinam, produzem vida, cultura, que (re)existem.