AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DO ESTADO DE SERGIPE
Resumo
INTRODUÇÃO
A saúde do trabalhador (ST) está integrada à saúde coletiva e requer uma abordagem interdisciplinar que inclui atividades de fiscalização, intervenção e promoção da saúde no local de trabalho (Gomes; Vasconcellos e Machado, 2018).
Os hábitos de vida e alimentar exercem uma influência considerável na ST. O aumento do sedentarismo e uma dieta inadequada estão associados ao maior risco de desenvolver Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT). Esse aumento do sedentarismo no ambiente de trabalho, juntamente com longas horas passadas em posição sentada, resulta em uma redução da Taxa Metabólica Basal (TMB) devido à diminuição do movimento e da atividade física (Groeneveld, 2008; Carvalho e Lessa, 2014). A obesidade, em particular, é uma preocupação, pois está associada a diversos fatores de risco, incluindo comportamental, ambiental e genéticos (Wanderley e Ferreira 2010).
Essas mudanças comportamentais e do desenvolvimento de doenças crônicas associadas às condições de trabalho, tanto a produtividade no local de trabalho quanto a qualidade de vida dos trabalhadores são impactadas (Kirsten; Ogata, 2017). Estratégias como a implementação de rotulagem nutricional, oferta de opções alimentares saudáveis e reeducação alimentar individual têm mostrado resultados promissores nesse sentido (Steenhuis et al., 2004).
Diante do exposto, apresenta-se o objetivo geral de comparar o perfil nutricional dos colaboradores da Universidade Tiradentes antes e após intervenção nutricional do projeto Mexa-se.
REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo França (2019), o trabalho é visto como um espaço favorável à promoção, prevenção da saúde e alimentação saudável. A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua que o ambiente de trabalho necessita dar a possibilidade e incentivar os colaboradores a fazerem boas escolhas saudáveis.
Uma alimentação balanceada com oferta de alimentos coloridos e atividade física regular, reduz a ansiedade, estresse, obesidade e várias outras doenças acarretadas pelo sedentarismo e má alimentação. Desta forma, a educação precoce de um bom estilo de vida melhora a longevidade do trabalhador. (Ferigollo e Fedosse, 2016).
Para alcançar mudanças significativas no comportamento da população-alvo, as estratégias de promoção da saúde devem ir além da educação, como através de planos alimentares individuais desenvolvidos por um profissional de saúde especializado (Ni mhurchu; Aston e Jebb, 2010). Neste contexto, outro estudo considera importante o papel do nutricionista junto a este cenário, a fim de que o trabalhador possa ser educado adequadamente quanto a sua dieta e escolha de hábitos saudáveis (França, 2019).
PROCEDIMENTOS DE OPERACIONALIZAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO
Trata-se de um estudo desenvolvido na Universidade Tiradentes (Unit), Campus Farolândia – Aracaju SE. Amostra de caráter não probabilístico por acessibilidade, constituída por funcionários da universidade que buscaram atendimento no Mexa-se, programa de qualidade de vida da UNIT, nos anos de 2021 a 2023. Os critérios de inclusão da pesquisa foram: colaboradores que procuraram o programa Mexa-se nos anos de 2021 e 2023; Os critérios de exclusão foram: colaboradores que não retornaram para uma reavaliação e acompanhamento; que não realizaram bioimpedância; que tiveram acompanhamento por atendimento remoto. Os dados foram obtidos através da análise da ficha nutricional utilizada no Mexa-se
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Foram analisadas 138 fichas de atendimento do Mexa-se. Destas, 39 atenderam aos critérios de inclusão. Conforme demonstrado na tabela 1, a maioria encontrava-se na faixa etária dos 30 aos 59 anos (59%), era do sexo feminino (59%), teve como objetivo de consulta o emagrecimento (48,7%) e negou comorbidades (46,2%). As comorbidades mais relatadas foram Doenças gastrointestinais (12,8%), Hipertensão (7,7%) e Dislipidemia (5,1%).
Tabela 1 – Características dos participantes do estudo
Variáveis
N (%)
Idade
20-29 anos
16(41)
30-59 anos
23 (59)
Total
39 (100)
Sexo
Feminino
23 (59)
Masculino
16 (41)
Total
39 (100)
Objetivo
Emagrecimento
19 (48,7)
Qualidade de vida
5 (12,8)
Hipertrofia
11 (28,2)
Reeducação alimentar
2 (5,1)
Melhorar composição corporal
2 (5,1)
Total
39 (100)
Comorbidades
Hipertensão
3 (7,7)
Dislipidemia
2 (5,1)
Doenças Gastrointestinais
5 (12,8)
SOP
1 (2,6)
Nenhuma Comorbidade
18 (46,2)
Hipertensão + dislipidemia
1 (2,6)
Hipertensão+tireoide
1 (2,6)
SII
2 (5,1)
Dislipidemia+SOP
1 (2,6)
Dislipidemia+has
1 (2,6)
Obesidade
1(2,6)
escoliose + gastrite
1(2,6)
esteatose
1(2,6)
adenomiose+bocio
1 (2,6)
Total
39 (100)
Fonte: Dados resultantes do projeto (2021-2023)
Quanto ao estilo de vida, a maioria negou etilismo (53,8%) e tabagismo (97,4%) e praticava exercício físico (82,1%), Tabela 2.
Tabela 2 – Estilo de vida dos participantes do estudo
Variáveis
N (%)
Etilismo
Sim
18 (46,2)
Não
21 (53,8)
Total
39 (100)
Tabagismo
Sim
1 (2,6)
Não
38 (97,4)
Total
39 (100)
Exercício Físico
Sim
32 (82,1)
Não
7 (17,9)
Total
39 (100)
Fonte: Dados resultantes do projeto (2021-2023)
Com relação ao número de consultas, 64,1% compareceram a 2 consultas, a primeira e a de retorno, 25,6% 4 consultas e 10,3% 3 consultas, a maioria com mais de 30 dias de tempo de retorno (82,1%). Na primeira consulta, prevaleceu o IMC dentro da normalidade (38,5%) (Tabela 3).
Tabela 3 – Consultas dos participantes do estudo
Variáveis
N (%)
Número de consultas
2
25 (64,1)
3
4 (10,3)
4
10 (25,6)
Total
39 (100)
Tempo de retorno
Até 30 dias
7 (17,9)
Mais de 30 dias
32 (82,1)
Total
39 (100)
IMC
Abaixo de 18,5
1 (2,6)
18,5 a 24,9 normal
15 (38,5)
25 a 29,9 sobrepeso
12 (30,8)
30 a 34,9 obesidade I
8 (20,5)
34 a 39,9 obesidade II
3 (7,7)
>40 obesidade III
0
Total
39 (100)
Fonte: Dados resultantes do projeto (2021-2023)
Ao observar o retorno dos pacientes após a primeira consulta, nota-se que todos os participantes retornaram pelo menos uma vez, reduzindo este quantitativo nos demais retornos de acordo com a tabela 4. Quanto a composição corporal dos participantes, não houve diferença significativa no primeiro retorno, havendo mudanças a partir do segundo retorno.
Tabela 4 – Composição corporal antes e depois da intervenção nutricional
Variáveis
N
Mínimo
Máximo
Média
Desvio Padrão
Peso consulta 1
39
43,10
108,50
76,8077
16,75028
Peso retorno 1
39
47,30
108,70
76,9205
16,06725
Peso retorno 2
14
61,30
110,80
81,1214
14,44471
Peso retorno 3
9
61,80
93,90
78,6333
10,89381
PGC consulta 1
39
13,40
51,90
32,4103
10,16883
PGC retorno 1
39
14,90
51,80
32,4413
10,14939
PGC retorno 2
12
15,60
47,10
33,8083
11,19655
PGC retorno 3
8
15,70
46,90
34,5500
12,66345
Massa Muscular consulta 1
39
18,30
45,40
28,6538
7,34735
Massa muscular retorno 1
39
18,80
44,80
28,9789
7,41278
Massa muscular retorno 2
11
21,20
44,70
32,2636
9,19927
Massa muscular retorno 3
8
20,70
43,30
29,9375
9,20620
Massa de Gordura consulta 1
39
8,10
56,00
25,3590
10,84517
Massa de Gordura retorno 1
39
9,30
56,30
25,2872
10,58008
Massa de Gordura retorno 2
12
13,20
44,70
28,1917
10,25506
Massa de Gordura retorno 3
8
13,30
41,40
27,2750
9,25075
Fonte: Dados resultantes do projeto (2021-2023)
CONCLUSÕES
Observou-se maior presença dos participantes no primeiro retorno e mudanças na composição corporal a partir do segundo retorno. Desta forma, conclui-se que deve haver mais pesquisas a fim de ajudar e aprimorar a divulgação do trabalho realizado pelo programa Mexa-se, bem como promover melhoria da qualidade de vida e consequentemente melhorar a capacidade produtiva dos funcionários da Unit.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, T. N.; LESSA, M. R. Sedentarismo no ambiente de trabalho: os prejuízos da postura sentada por longos períodos. Revista Eletrônica Saber, v. 23, n. 1, p. 1-12, 2014.
FERIGOLLO, J.P.; FEDOSSE, E.; DOS SANTOS FILHA, V. A. V. Qualidade de vida de profissionais da saúde pública/Professional quality of life of public health. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 24, n. 3, 2016.
FRANÇA, E. L. Perfil nutricional, hábitos alimentares e estilo de vida dos servidores de uma instituição de ensino federal do norte de Minas Gerais, Campus Januária e sua relação com as doenças do trabalho. 2019.
GOMEZ, C.M.; VASCONCELLOS, L. C. F. de; MACHADO, J. M. H. Saúde do trabalhador: aspectos históricos, avanços e desafios no Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, p. 1963-1970, 2018.
GROENEVELD, I. F. et al. Design of a RCT evaluating the (cost-) effectiveness of a lifestyle intervention for male construction workers at risk for cardiovascular disease: the health under construction study. BMC Public Health, v. 8, p. 1-12, 2008.
KIRSTEN, W.; OGATA, A. Creating Healthy Workplaces in Challenging Times. B&G Bewegungstherapie und Gesundheitssport, v. 33, n. 04, p. 171-173, 2017.
NI MHURCHU, C; ASTON,. L. M.; JEBB, S. A. Effects of worksite health promotion interventions on employee diets: a systematic review. BMC public health, v. 10, n. 1, p. 1-7, 2010.
STEENHUIS, I. et al. Process evaluation of two environmental nutrition programmes and an educational nutrition programme conducted at supermarkets and worksite cafeterias in the Netherlands. Journal of Human Nutrition and Dietetics, v. 17, n. 2, p. 107-115, 2004.
WANDERLEY, E. N; FERREIRA, V.A. Obesidade: uma perspectiva plural. Ciência & saúde coletiva, v. 15, p. 185-194, 2010.