O DESENGAJAMENTO MORAL NAS VIOLAÇÕES DAS DETERMINAÇÕES DE SAÚDE NO CONTEXTO PANDÊMICO

Resumo

RESUMO: INTRODUÇÃO: O desengajamento moral é um conceito da Teoria Social Cognitiva (TSC) desenvolvido por Albert Bandura, na qual apresenta oito tipos de mecanismos: justificativa moral, linguagem eufemística, comparação vantajosa, difusão da responsabilidade, deslocamento de responsabilidade, desumanização, atribuição de culpa a vítima e minimização, ignorância ou distorção das consequências. Esses mecanismos são utilizados como estratégias para justificar atos antissociais (IGLESIAS, 2008). Assim, com o surgimento da COVID-19, se fez necessário a implementação de medidas sanitárias como forma de combater a proliferação do vírus, mas, conforme comenta Breton (2020), algumas pessoas se mostraram resistentes para seguir tais normas, descumprindo-as e em seguida apresentando justificativas para essa postura. OBJETIVO: Objetivou-se analisar o desengajamento moral nas pessoas que infringiram as orientações de saúde no contexto da pandemia da COVID-19 por meio de reportagens de casos de grande repercussão. METODOLOGIA: Pesquisa documental e descritiva, realizada através do levantamento de reportagens brasileiras datadas de março a setembro de 2020. Foi utilizada como ferramenta de busca, a plataforma digital Twitter, sendo coletadas reportagens de contas verificadas selecionadas pelas pesquisadoras, que foram: @g1, @uol, @terra, @correio  e @revistaforum. Além disso, foram estabelecidos quatro (4) perfis de públicos alvos da pesquisa, sendo eles: políticos, pessoas públicas, religiosos e pessoas anônimas. Logo após, realizou-se a tabulação dos dados e as análises individuais de cada reportagem, para a identificação dos mecanismos presentes nas justificativas. RESULTADOS: Foram encontrados ao todo 52 casos de desengajamento moral nas falas coletadas, dentre elas 31 (59,62%) estavam relacionadas a transgressões e 21 (40,38%) a discursos desengajadores frentes às determinações sanitárias. Identificou-se a justificativa moral como o mecanismo de desengajamento mais frequente (34,62%); seguido por minimização, ignorância ou distorção das consequências (23,08%), acontecendo especialmente entre os políticos (11,54%). Observou-se dentre os casos envolvendo pessoas físicas, um quantitativo prevalente de desengajamento em pessoas do sexo masculino (89,19%) em comparação ao público feminino (10,81%). Relacionado a perfis, 34,62% enquadraram-se políticos, 25% pessoas anônimas, 23,08% religiosos e 17,31% pessoas públicas. Destacou-se ainda o não uso de máscara (51,52%) e aglomeração (36,36%) como transgressões principais. Frente ao desprendimento moral, perceberam-se justificativas voltadas às liberdades individuais e religiosas, estabilização da economia, necessidades familiares e financeiras. CONCLUSÃO: À vista do número significativo de casos envolvendo desengajamento moral encontrados no presente estudo, espera-se oportunizar reflexões acerca desses comportamentos transgressores e autorreguláveis, que por sua vez, espelham na sociedade comportamentos individualistas. Torna-se fundamental o exercício da auto-observação, o desenvolvimento de um compromisso coletivo e empático diante o cenário pandêmico.