Correlação da Injúria Renal Aguda com evolução em unidade de terapia intensiva.

Resumo

Introdução: A injúria renal aguda (IRA) é uma entidade cujos critérios diagnósticos passaram por um intenso processo de consolidação nos últimos anos. Com a definição precisa proposta pelo Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO), percebeu-se maior facilidade e acurácia diagnóstica desta condição potencialmente fatal, dadas suas consequências como distúrbios hidroeletrolíticos e acúmulo de escórias nitrogenadas. A IRA pode, ainda, ser classificada quanto a sua etiologia em pré-renal, renal e pós renal. A IRA pré-renal decorre de alteração no fluxo sanguíneo renal, podendo ser causada por hipovolemia e desidratação. Já o mecanismo da IRA renal ou intrínseca, ocorre por lesão do parênquima renal e tem como principal causa a necrose tubular aguda. Por sua vez, a IRA pós-renal normalmente é secundária a obstrução renal ou extrarrenal. Contudo, em pacientes críticos hospitalizados, a injúria renal aguda pode apresentar etiologia diversificada, uma vez que coexistem diferentes mecanismos de lesão. Este fato pode dificultar o reconhecimento da doença e culminar na instituição tardia de condutas adequadas que minimizem os possíveis danos renais. Objetivos: Avaliar a incidência de IRA em pacientes hospitalizados sob cuidados intensivos, identificar comorbidades e elaborar o perfil epidemiológico, em busca de correlacionar tais elementos com a evolução e desfecho dos pacientes. Material e Métodos: Estudo do tipo observacional, descritivo e retrospectivo, com abordagem quantitativa no qual foram avaliados prontuários de pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI) geral e coronariana durante os anos de 2017 e 2018.  Resultados: Devido à pandemia causada pelo SARS-CoV-2, o seguimento do projeto foi inviabilizado ainda na fase da coleta de dados, não sendo possível a realização de uma análise completa e fidedigna da amostra necessária. Ainda assim, foram obtidos um total de 1.774 pacientes hospitalizados sob cuidados intensivos nos anos de 2017 e 2018, sendo 726 pacientes na UTI geral e 1.048 na UTI coronariana. Em 2017, 317 pacientes foram internados na UTI geral, e destes, 45,8% eram homens e 54,2% mulheres. Em todos meses do ano, a quantidade de mulheres internadas excedeu a quantidade de homens, exceto em novembro. No ano de 2018, 407 pacientes foram internados, sendo que 47,6% eram homens e 52,3% mulheres, seguindo a proporção de maioria feminina. Em relação aos pacientes internados na unidade coronariana, em 2017, obteve-se um total de 433 pacientes e a proporção de homens e mulheres se inverteu, sendo que 50,5% eram homens e 49,4% mulheres. Já em 2018, houve um total de 615 pacientes internados, sendo que destes, 58,2% eram homens e 41,7% mulheres. Conclusão: Diante desta perspectiva e considerando-se a capacidade de prevenção desta condição e redução de danos associados, é de extrema importância para a prática médica em UTIs que sejam realizados estudos possibilitem a análise e associação da IRA com variáveis características da população brasileira. Além disso, a etiologia, muitas vezes, multifatorial da IRA pode dificultar seu diagnóstico, especialmente se instalada subsequentemente à outras patologias graves, como a sepse. Consequentemente, é provável que haja atraso de abordagens terapêuticas adequadas, contribuindo para o índice de óbito das UTIs brasileiras.