Crenças individuais, ações coletivas: como as decisões morais afetam o comportamento político?

Resumo

As notícias falsas ou “fake news”, se tornaram na última década uma ferramenta política imprescindível na narrativa da extrema direita. A forma como são processadas as notícias falsas e os julgamentos morais foi o ponto de partida para o delineamento desta pesquisa. No contexto das redes sociais é nítida a complexidade da análise da moralidade pelo caráter volátil do ambiente. Para aprofundar na esferas ao redor da moralidade, foi utilizada a Teoria dos Fundamentos Morais (TFM) de Jonathan Haidt. A TFM abarca seis fundamentos morais, sendo: Dano/Cuidado, Justiça/Equidade, Lealdade/Traição, Autoridade/Subversão e Pureza/Santidade. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o impacto das fake news no comportamento político de usuários da rede social Whatsapp. O estudo fez uso da netnografia. Este método consiste em adaptações de procedimentos e técnicas tradicionalmente usados na etnografia para se tornar possível estudar fenômenos que ocorrem em ambientes digitais. Esses fenômenos envolvem a comunicação mediada por computador ou smartphone, indo além quanto às especificidades das linguagens e dos símbolos.O trabalho foi realizado em duas etapas, a primeira consistiu nos diários netnográficos realizados de segunda a sexta nos meses de fevereiro a julho de 2020. Já a segunda etapa consistiu nas catalogações dos conteúdos usando a TFM para identificar quais os fundamentos morais estavam presentes nos conteúdos compartilhados. Observou-se o índice gritante de discurso de ódio contra aqueles considerados opositores. Os orquestradores se aproveitam de estereótipos de estigmatização, escolha parcial de discursos favoráveis, utilização de afirmações sem base, apelo à autoridade e manipulação emocional. A aplicação desses mecanismos aumenta consideravelmente a chance daquele conteúdo ser visto como legítimo. Através das observações no contexto brasileiro, pode-se observar que a construção dos fundamentos morais delineados por Haidt (2018), assim como uma ideologia do medo, são essencialmente alavancados a partir de uma frustração social. Criado o contexto propício, segue-se o apelo a uma classe média frustrada, sofrendo sob alguma desilusão política, crise econômica e/ou assustada em perder privilégios para pautas progressistas das minorias. Em decorrência das observações, foi possível observar o comprometimento absoluto com o leque de características atribuídas à direita e ao atual presidente.Em relação a propagação das mensagens, observou-se que as três maiores formas de disseminação de fake news nos grupos são: portais da “imprensa independente”, vídeos de youtubers autodeclarados de direita e encaminhamento de mensagens sem identificação, geralmente acompanhadas de emojis que chamem atenção (como sirenes, bombas e chamas). Verificou-se ser evidente que grande parte dos participantes não busca formar uma opinião, mas apenas ouvir e ler ideias que coadunem com suas visões de mundo, e tampouco estão preocupados em checar se a informação que estão propagando possui veracidade, pelo contrário, aparentam muitas vezes estarem cientes da improbabilidade da notícia, entretanto, não se importam, pois aquela determinada fake news fortalece sua narrativa.