A MERCANTILIZAÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DOS APARELHOS MIDIÁTICOS: UMA ANÁLISE ETNOGRÁFICA NA CIDADE DE MACEIÓ
Palavras-chave:
Criminologia Midiática, Política Criminal, Processual Penal.Resumo
A criminalidade é um fenômeno recorrente de debate no cotidiano das várias camadas da sociedade, o que justifica o interesse geral pelo jornalismo investigativo. Assim, diante de um saber criminológico superficial advindo da criminologia midiática, faz-se necessário o estudo aprofundado de como essa criminalidade tem sido retratada pelos aparelhos midiáticos, mais especificamente em Alagoas. E mais, como estes tem criminalizado a pobreza através, principalmente, da reconstrução enviesada do caso noticiado, escolhendo a dedo os seus alvos, os chamados bodes expiatórios. Zaffaroniretrata que este processo reforça a estigmatização de determinadas pessoas a fim de obter lucro, transformando, assim, o crime em mercadoria1. Conclui-se através do presente trabalho que a mídia deixou de ter uma função meramente comunicativa, detentora de um discurso com pretensão fidedigna sobre a investigação de um crime. Em virtude disso, a pesquisa tem como objetivo analisar a atuação da criminologia midiática dentro do contexto da criminalidade alagoana, bem como de que forma o resultado disso tem ocasionado na transformação de garantias fundamentais em mercadoria. Nesse diapasão, busca-se compreender essa criminologia a partir de uma perspectiva crítica, identificando como a mídia se apropria da criminalização da pobreza para mercantilizar o crime através de jornalismo sensacionalista; verificando como tem se operado a escolha dos seus alvos para a concretização de sua finalidade; analisando como o discurso midiático atua e perpassa por direitos e garantias fundamentais previstas constitucionalmente, sem a sua devida observância, e, por fim, identificando o quanto tem se tornado lucrativo a criminalização da pobreza, através dos números de audiência e das propagandas veiculadas entre um programa e outro. Trata-se de pesquisa quantitativa e qualitativa, de cunho bibliográfico e etnográfico, através de mecanismo digital, onde foi selecionado, em Alagoas, o programa “Fique Alerta”. Com lapso temporal de três meses e uma semana, totalizando sessenta e seis dias de programas assistidos. Nesse contexto, delimitou-se a análise de conteúdo, colhendo-se com as seguintes varáveis: a) quais os tipos penais noticiados; b) qual a frequência com que eles são noticiados; c) qual a sua cor de pele e gênero; d) a constituição discursiva para se referir ao imputado, quais as denominações dadas a eles; bem como e) a classe social dos indivíduos, as quais os seus critérios de definição foram determinados de acordo com a averiguação pela pesquisadora de como é feito a divisão de classe social por bairro, a partir dos parâmetros desenvolvidos dentro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2. Por conseguinte, serão observadas as propagandas difundidas durante as transmissões e nos intervalos, bem como a audiência do programa e o seu lucro mensal com tais publicidades. A pesquisa em tela está em andamento, de tal sorte que já foi possível comprovar que 88,8% dos casos retratados pela mídia local no que tange aos crimes são periféricos, dos quais 60% dos supostos autores são negros e 91,7% do gênero masculino. Percebe-se, através desta pesquisa, que os aparelhos midiáticos com todo seu discurso de poder mostra sua força criminalizante, categorizante e, não obstante, repressiva.Downloads
Referências
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