O SUICÍDIO COMO PATOLOGIA SOCIAL: A DECADÊNCIA DA SOCIEDADE MODERNA

Autores

  • Fernando Fortes Melro Neto UNIT

Palavras-chave:

Psicanálise, Sociedade Contemporânea, Suicídio.

Resumo

Introdução: Ocorreram 804.000 mortes por suicídio em 2012, o suicídio é a segunda maior causa de morte em jovens entre 15 e 29 anos. Esses números devem ser ainda maiores, pois a qualidade dos dados é baixa devido a subnotificação e ao erro de classificação. Além disso, o comportamento suicida ainda é crime em alguns países. Mas mesmo em países com rede de suporte, identificação precoce e tratamento adequados, como reza a OMS, ele continua sendo um problema de saúde pública. Inclusive, a taxa de suicídios em países de alta renda é maior do que a dos de média/baixa renda, o que comprova as críticas de Marx sobre a lógica do filantropo. Alguns fatores sociais citados pelo boletim mundial de 2014 são: guerra, desastres, aculturamento, discriminação, sensação de isolamento, abuso, violência e relacionamentos conflituosos. A sociedade contemporânea tem como característica vários desses fatores de risco. Deste modo, a psicanálise intervém como um meio de escoamento para esse sofrimento. Objetivo: Investigar o suicídio como patologia social e a influência que a sociedade contemporânea exerce sobre o mesmo. Metodologia: Pesquisa quali-quantitativa e exploratória por meio de revisão sistemática de literatura e levantamento de dados oficiais. Resultados: A dinâmica psíquica é elaborada por Freud a partir do quadro clínico da melancolia. Só a partir de uma identificação do Eu com o objeto perdido é que o Eu pode se atacar, como se atacasse um objeto, obtendo uma satisfação sádica nesse processo. É só tratando a si mesmo como objeto que o Eu consegue contornar a forte pulsão de autopreservação. Lacan observa que no momento do ato suicida, há o trinfo do objeto sobre o sujeito, que se deixa cair com o objeto. Freud afirma que mesmo em casos de acidentes deve-se considerar uma tendência inconsciente à autodestruição, o que acaba tornando limitada nossa classificação atual de morte por “Lesões autoprovocadas voluntariamente”. Procurando esse critério no sistema DATASUS observa-se um aumento de aproximadamente 107% no número de suicídios no período de 1996-2016. Esse aumento não pode ser explicado pelo crescimento populacional, pois a população cresceu 27% no mesmo período. Fica evidente a importância dessa pesquisa para o contexto local. A hipótese de decadência social tem contribuição de Bauman e seu conceito de modernidade liquida. Conclusão: A influência de fatores sociais é comprovada nas taxas de populações vulneráveis, como os indígenas, onde podemos encontrar taxas até 400 vezes maiores do que as médias. O esclarecimento do fator social é o primeiro passo para uma intervenção em larga escala e não só individualizada. Já em 1864 Marx denunciava o caráter social do fenômeno e a relação direta entre taxas e mudanças sociais, mas somente em 2014 a OMS adota essas afirmações em seu boletim mundial.

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Referências

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001.

FREUD, S. Luto e melancolia. In: Neurose, psicose, perversão. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2016. (Trabalho original publicado em 1917).

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MORGADO, A. F. Epidemia de suicídio entre os Guaraní-Kaiwá: indagando suas causas e avançando a hipótese do recuo impossível. Cadernos de Saúde Pública, v. 7, p. 585-598, 1991.

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LACAN, J. O seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. (Trabalho original publicado em 1962-1963).

WORLD HEALTH ASSOCIATION (OMS). Preventing suicide: a global imperative. Suíça, 2014.

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Publicado

2020-08-10

Como Citar

Fortes Melro Neto, F. (2020). O SUICÍDIO COMO PATOLOGIA SOCIAL: A DECADÊNCIA DA SOCIEDADE MODERNA. SEMPESq - Semana De Pesquisa Da Unit - Alagoas, (7). Recuperado de https://eventos.set.edu.br/al_sempesq/article/view/12013

Edição

Seção

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas