FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A PEDAGOGIA DOS MULTILETRAMENTOS COMO POTENCIALIZADORA DE APRENDIZAGENS MULTILETRADAS

Autores

  • Josiane Argolo Brotas Simoes UNEB
  • Obdália Ferraz da Silva UNEB

Palavras-chave:

Multiletramentos. Tecnologias Digitais. Ação sociopolítica. Formação de Professor. Práticas pedagógicas.

Resumo

A pesquisa e seus itinerários O objetivo deste estudo é refletir sobre a prática pedagógica enquanto ação sociopolítica de engajamento, na perspectiva de uma formação emancipatória, no contexto da Pedagogia de Multiletramentos. Pretendemos promover uma discussão teórico-prática sobre o potencial colaborativo e formativo das tecnologias digitais, suas multimodalidades e suas multissemioses para a produção de conhecimento no contexto escolar. A questão que se propõe nesta pesquisa é: como as práticas multimodais, multissemióticas e multiculturais, ampliadas pelas tecnologias digitais, podem potencializar a prática pedagógica dos professores e professoras do Ensino Fundamental I como ação sociopolítica? Tal discussão é proposta no sentido de pensarmos, colaborativamente, metodologias aplicadas em um contexto situado, visando às práticas multiletradas que contribuam para que professores e estudantes vivenciem uma ação educativa sociopolítica, contextualizada e multicultural. Como base teórica desta pesquisa, faremos a discussão das seguintes temáticas: letramentos (ROJO, 2009; SOARES, 2002; KLEIMAN, 2005; 2008; STREET, 2010; 2012; 2014); multiletramentos (ROJO, 2012; 2013; 2015); (SILVA, 2007; 2012; 2019); tecnologias digitais (LEVY, 1999; COSCARELLI, 2011; 2016); ação sociopolítica na prática pedagógica (FREIRE, 2008; MACEDO, 2014); formação de professor (FREIRE, 1997; 1993; 2000; NÓVOA, 2007). A abordagem metodológica será qualitativa, de inspiração etnográfica (ANDRÉ, 2012). Como norteadores da investigação empírica, este estudo se embasará nos pressupostos da pesquisa colaborativa (DESGAGNÉ, 2007; IBIAPINA, 2008). Fundamentos teóricos: alicerces conceituais A pesquisa proposta se constitui em uma discussão e reflexão sobre a formação docente no âmbito da cultura digital e busca ampliar o debate para discussões relevantes na sociedade atual e contemporânea, quais sejam: os Multiletramentos; as Tecnologias Digitais; a Ação Sociopolítica na prática pedagógica e Formação de professor. Nesse sentido, a pesquisa buscará dialogar e articular tais categorias em diversos campos do conhecimento humano para um embasamento de uma reflexão e discussão sobre a possibilidade de se potencializar a construção crítica nas práticas educativas de modo a buscar novas maneiras de se produzir conhecimento, com participação e colaboração de todos os atores envolvidos no processo educativo. Isso poderá se concretizar a partir de projetos que envolvam linguagens multiletradas com ampliação dos estudos sobre as práticas pedagógicas no contexto da cultura digital na formação docente. Rojo (2012, p. 13) nos ajuda a compreender as concepções e os princípios presentes nos multiletramentos e afirma que: [...] o conceito de multiletramentos – é bom enfatizar – aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presente em nossa sociedade, principalmente urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meios dos quais ela se informa e se comunica. Assim sendo, os multiletramentos são práticas e eventos de letramentos que estão inseridos em dimensões multiculturais e multissemióticas com possibilidade de colocar em cena múltiplas culturas e significações no processo educativo. Compreende-se que a interação propiciada pelos multiletramentos, potencializados pelas tecnologias digitais, com práticas que valorizam a multiplicidade cultural articulada a gêneros multimodais, fomenta o processo criativo e colaborativo nas práticas pedagógicas de maneira a impulsionar o debate político imbricado a criticidade necessária para uma educação crítico-reflexiva, tão demandada na contemporaneidade. Consideramos relevante a compreensão de que as práticas pedagógicas crítico-reflexivas não acontecem de maneira ingênua e descontextualizada, mas através de um trabalho que contemple temáticas significativas para os alunos, estes entendidos como sujeitos históricos, capazes de dialogar, valorar e decidir, de modo a participar ativamente da sua realidade social. Práticas pedagógicas nessa perspectiva se aproximam das propostas de trabalho com os multiletramentos, pois contribuem para fortalecer ações políticas de responsabilidade com o coletivo e questionamentos de estruturas tradicionais e hegemônicas na sociedade e nos espaços escolares. Nesse sentido, o professor precisará preparar-se para realizar essa transformação em seu fazer pedagógico. Urge formar docentes para lidar com estudantes da sociedade do conhecimento em rede. [...] na ideia de um professor intercrítico que pleteia e vivencia ativamente sua própria formação, está explícita a nossa intenção de trazer à baila a criticidade do professor que reflete a partir da complexidade relacional de sua formação e da escuta da sua própria prática cotidiana, tomando a necessidade da reflexão a partir de uma existencialidade profissional curiosa e inquietada, que implementa a prática crítica inspirada em bases morais e políticas dialógicas. Alimenta com isso, o descentralizamento e a dialogicidade responsabilizados com a qualificação. (MACEDO, 2014, p. 151-152) A formação de professor, com vistas à ação sociopolítica se efetiva como possiblidade de construção de conhecimento dialógico e dialético. Para Freire, o professor precisa assumir o papel de trabalhador social e agente de mudança que utiliza sua prática pedagógica como dispositivo de superação e de transformação da estrutura social. [...] a opção feita pelo trabalhador social irá determinar tanto seu papel como seus métodos e suas técnicas de ação. É uma ingenuidade pensar num papel abstrato, num conjunto de métodos técnicas neutras para uma ação que se dá entre homens, numa realidade que não é neutra. (FREIRE, 2008, p. 26) Nesse sentido, as implicações da ação sociopolítica dos docentes em suas práticas pedagógicas, dentro da perspectiva dos multiletramentos, exige um comprometimento do professor com um trabalho crítico, criativo e ético, considerando várias linguagens e culturas do contexto atuall, com vistas a ações transformadoras. Pensar a formação do professor para atuar na sala de aula do mundo contemporâneo, poderá contribuir para que ele construa conhecimentos que o auxiliem no desenvolvimento de projetos pedagógicos que priorizem a formação do sujeito crítico, ampliando, desse modo oportunidades de aprendizagens multiletradas e colaborativas pautadas na responsabilidade coletiva e social. Os multiletramentos como potencializadores de práticas pedagógicas mais significativas poderão contribuir para formação de sujeitos autônomos que saibam ir em busca do que e como aprender e que consigam construir aprendizagens colaborativas (ROJO, 2012). Percurso metodológico: caminhos de pesquisa A abordagem metodológica escolhida para a condução desta investigação é a pesquisa colaborativa, por considerar que tal abordagem atende a necessidade de estreitar laços entre a escola e a comunidade acadêmica e promove resultados concretos que podem ser aproveitados pela comunidade escolar. Nesta direção, Desgagné (2012) afirma que a pesquisa colaborativa associa as práticas pedagógicas à construção de conhecimento e ao desenvolvimento profissional dos docentes e dos pesquisadores, característica que enriquece o resultado da pesquisa. A partir de uma abordagem qualitativa, o objetivo do percurso metodológico escolhido é o de compreender os desafios de uma prática pedagógica fundamentada nos princípios da colaboração (IBIAPINA, 2008), sob o prisma de uma ação. Os dispositivos de coleta de dados dialogam com a perspectiva colaborativa fazendo uso de observação participante, entrevistas semiestruturadas e realização de sessões reflexivas, a partir de momentos formativos, por meio de diálogos sobre temáticas relevantes à comunidade escolar participante da pesquisa. As sessões reflexivas e todo processo permitem que os sujeitos envolvidos assumam a postura de atores das reflexões com intensa possibilidade de contemplar a dimensão sociopolítica de transformação das práticas pedagógicas. Conclusão A investigação apresentada propõe momentos de reflexões coletivas e colaborativas em que os sujeitos envolvidos participam das discussões, análises e principalmente, da construção de propostas das práticas pedagógicas alinhadas aos princípios dos multiletramentos em uma perspectiva crítico-reflexiva. Apresenta-se, portanto, uma proposta de pesquisa que evoca um convite à discussão e um debate sobre a importância da formação docente para práticas pedagógicas como construção sociopolítica. Vale salientar que a dialogicidade apresenta-se como elemento indissociável e indispensável nas práticas pedagógicas de docentes que almejam uma formação crítica e reflexiva e que impulsionam a participação e a colaboração dos sujeitos nas novas demandas da contemporaneidade.

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Biografia do Autor

Josiane Argolo Brotas Simoes, UNEB

Professora Rede de Camaçari Especialista em EJA Especialista em Alfabetização e Letramento Mestranda em Educação e Contemporaneidade Integrante do GEPLET Campus I - UNEB

Obdália Ferraz da Silva, UNEB

Obdália Santana Ferraz Silva Possui graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (1992), graduação em Licenciatura Plena em Letras: Habil. Port./Inglês pela Universidade do Estado da Bahia (2002); Especialização em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação pela Universidade do Estado da Bahia (1997); Mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (2006). Doutorado em Educação, pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é professora do Curso de Letras/Português da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus XIV; professora do Mestrado Profissional em Educação e Diversidade, do Campus XIV/ UNEB, Linha de Pesquisa 1: Educação, Linguagens e Identidade; professora do PPGEDUC/UNEB, Campus I, Linha de Pesquisa 4: Educação, Currículo e Processos Tecnológicos. É coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em (Multi)letramentos, Educação e Tecnologias (GEPLET). Tem experiência investigativa na área de Educação, com ênfase em Ensino, atuando, principalmente, nos seguintes temas: linguagem, leitura, escrita, plágio, autoria, hipertexto, (multi)letramentos, gêneros textuais/discursuivos, letramentos multi-hipermidiáticos, ensino de língua materna e formação de professor. ,

Referências

DESGAGNÉ, Serge. O conceito de pesquisa colaborativa: a ideia de uma aproximação entre pesquisadores universitários e professores práticos. Revista Educação em Questão. Natal, v. 29, n. 15, p. 7-35, maio/ago. 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.

ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 29 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

IBIAPINA, I. M. L. M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília: Líber Livro Editora, 2008.

MACEDO, Roberto Sidnei. Atos de currículo formação em atos? Para compreender, entretecer e problematizar currículo e formação. 2 ed. Ilhéus: EDITUS, 2014.

ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola editorial, 2012.

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Publicado

2020-04-13

Como Citar

Brotas Simoes, J. A., & da Silva, O. F. (2020). FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A PEDAGOGIA DOS MULTILETRAMENTOS COMO POTENCIALIZADORA DE APRENDIZAGENS MULTILETRADAS. II Encontro Regional Norte-Nordeste Da ABCiber, (1). Recuperado de https://eventos.set.edu.br/abciber/article/view/13505

Edição

Seção

Educação e Comunicação na Cibercultura