A INTERNET DAS COISAS: UTILIDADE PÚBLICA OU FETICHE TECNOLÓGICO?
Palavras-chave:
Internet das Coisas, repercussõesResumo
Este artigo é resultante das discussões ocorridas na disciplina xxxxx dos cursos de xxxxx e tem como objetivo apresentar as diferentes perspectivas da Internet of Things (IoT) e analisar as suas repercussões em quatro vastos ambientes: social, pessoal, profissional e acadêmico. Ademais, pretende-se refletir sobre as prospecções futuras da IoT e averiguar se a explosão dessa tecnologia futurística, mas já presente na contemporaneidade, possui utilidade bem definida ou é mais um fetiche tecnológico do capitalismo. A descrição da tecnologia é feita a partir das várias referências listadas, enquanto a reflexão sobre a sua pertinência e suas consequências sobre a humanidade, particularmente a brasileira, é realizada tomando-se como referencial teórico as obras “A dromocracia cibercultural” e “21 lições para o século 21” de Trivinho (2007) e Harari (2018), respectivamente. Como já é perceptível, o desenvolvimento digital atual tecnológico apresenta a possibilidade de utensílios cotidianos estabelecerem conexões com a internet e trocarem dados, através de wi-fi, bluetooth e de dispositivos de Identificação por Radiofrequência – Radio-Frequency Identification (RFID). Sabe-se que estes últimos são essenciais, pois permitem, por meio da emissão e recepção de sinais de rádio, o reconhecimento digital e o fluxo de informações com a malha virtual (MAGRANI, 2018, p. 45-46). Mas afinal, o que significa IoT? “De maneira geral, pode ser entendido como um ambiente de objetos físicos interconectados com a internet por meio de sensores pequenos e embutidos, criando um ecossistema de computação onipresente (ubíqua), voltado para a facilitação do cotidiano das pessoas, introduzindo soluções funcionais nos processos do dia a dia.” (MAGRANI, 2018, p. 20). 1. IoT: aplicações e repercussões 1.1 Na Sociedade No ambiente social, são perceptíveis várias aplicações para a IoT. No tocante às cidades, em 12 segmentos o potencial utilitário (ou não) da Internet das Coisas pode ser observado: “meio ambiente; água; medição; segurança e emergências; comércio; logística; controle industrial; agricultura; pecuária; automação residencial; saúde.” (MAGRANI, 2018, p. 47). Dentre eles, no setor agrícola, enfatiza-se o exemplo das fazendas estadunidenses Tom Farms, que se utilizam de sensores nas colheitadeiras, além de GPS¹ e tratores independentes juntos a aplicativos de irrigação. Já no setor automotivo, a IoT é presente nos carros da Tesla Motors que, por intermédio da conexão de veículos a smartphones, capacita usuários a verificar a bateria do automóvel, bem como a localizá-lo por GPS, por exemplo (MAGRANI, 2018, p. 87-88). Além disso, destaca-se que em algumas cidades brasileiras a IoT já está presente: “O governo do Paraná decidiu investir em três áreas (água, luz e gás), criando redes inteligentes de energia elétrica [...] na Grande São Paulo, está sendo implementado o sistema chamado Detecção e Vazamento de Água Potável (DVAP) [...]. Em Porto Alegre (RS), sensores distribuídos pela cidade captam informações para monitorar os ônibus por GPS.” (MAGRANI, 2018, p. 84). Logo, fica evidente que, diante dos diversos exemplos citados, as cidades inteligentes serão um dos principais focos de aplicação da Internet das Coisas na contemporaneidade, o que justifica a projeção para os gastos do mercado bilionário das smart cities ser em torno de 16 bilhões de dólares anualmente, a partir do ano de 2020 (ZANELLA et al., 2014). ¹ Global Positioning System (GPS) é o sistema de posicionamento global que fornece a um aparelho receptor móvel a sua posição na Terra, a qualquer momento e em qualquer lugar. Fonte: . Acesso em: 16 out. 2019. 1.2 No Campo Pessoal Similarmente, convém investigar o uso da IoT pelas pessoas. De início, é possível destacar a presença da Internet das Coisas nos chamados wearables: tecnologias vestíveis em objetos comuns, a exemplo de pulseiras, tênis e relógios, que podem estabelecer conexões entre si e com a rede, fornecendo dados de interesse para o indivíduo (MAGRANI, 2018, p. 46). Soma-se às aplicações, a existência dos assistentes virtuais ou de voz presentes em celulares e em caixas de som inteligentes, que ouvem, compreendem e interagem com as falas do proprietário. Sua expressão IoT em “casas conectadas” é dada na integração com objetos caseiros (televisões e chuveiros por exemplo). “O Brasil já tem o terceiro maior uso do Google Assistente em smartphones do mundo [...] ‘O Google Assistente é utilizado de forma muito intensa no Brasil [...]’, confirmou Maia, ‘Além disso, a curva de domicílios conectados chegou a uma curva de inflexão [...] há 147 milhões de residências inteligentes no mundo hoje [...] esse número deve saltar para 327 milhões já em 2021’, afirmou Germano.” (BARBOSA, 2019). Ainda no Brasil, em 2018, construções residenciais já foram realizadas pela Smart Eco House em grandes metrópoles, como São Paulo, e comprovaram que além de suas residências serem ecologicamente mais sustentáveis e econômicas - em comparação com as convencionais - são casas compostas por sensores inteligentes que podem ser controlados remotamente com um smartphone, isto é, operam via IoT (SANTINO, 2018). 1.3 Nas Profissões Ademais, o uso da Internet das Coisas pode também abranger o ambiente profissional. No transporte de cargas, por exemplo, considera-se a utilização de sensores individualizados em contêineres. Isso porque seu uso garante, dentre outros benefícios, a eficiência e a redução de gastos em perdas de cargas, somadas em U$ 15 bilhões só pelos Estados Unidos, com o uso de sensores locais de temperatura e umidade (GUPTA, 2012). Em adição, o uso da Internet das Coisas na tentativa da solução do problema do câncer de mama já é uma realidade. A Cyrcadia Health desenvolveu o ITBra, equipamento composto por minúsculos sensores que identificam as variações de temperatura na região dos seios, sendo capaz de transmitir as informações para o smartphone da usuária ou do médico, ajudando-os a identificar padrões malignos (ALBESHER, 2019). Por fim, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram, em 2017, uma pulseira que ajuda quem sofre de diabetes, doença cujo controle glicêmico deve ser contínuo. O equipamento consegue reter dados valiosos para o paciente, como a umidade e a temperatura da pele, por meio de sensores inteligentes, detectando constantemente níveis de açúcar no sangue e auxiliando significativamente o paciente em seu tratamento (G1, 2017). 1.4 Na Academia Por outro ângulo, convém averiguar como o ambiente acadêmico é influenciado pela interconexão dos objetos em rede (ou seja, IoT). Constituindo-se, inclusive, em parâmetro de ponderação, ao influenciar estudantes universitários na escolha de uma faculdade, a presença da Internet das Coisas no setor de educação trará claros impactos: “A IoT deve mudar drasticamente a maneira como as universidades funcionam e aprimorar o aprendizado dos alunos em muitas disciplinas e em qualquer nível. Tem um enorme potencial para universidades ou para qualquer outra instituição educacional.” (ALDOWAH, 2017, p. 2, tradução nossa). No Brasil, já se pode perceber uma repercussão desse movimento: em dezembro de 2016, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) propôs um acordo de cooperação técnica para elaborar o Plano Nacional de Internet das Coisas (Plano Nacional de IoT), que definiu as medidas a serem tomadas para que o país promovesse a Internet das Coisas como modelo de desenvolvimento para diversos setores, inclusive o educacional (MAGRANI, 2018, p. 82-83). Todavia, um dos principais desafios que o Brasil enfrentará, diz respeito ao papel do Estado em uma realidade hiperconectada, mas socialmente desequilibrada. Nesse cenário, pode-se estar contribuindo para com o aprofundamento econômico e social já existente, através do investimento e fomento à tecnologia IoT. Dessa maneira, refletiremos à luz da dromocracia cibercultural (Trivinho, 2007) se a tecnologia digital é um bem público ou está destinada apenas aos mais afortunados. Para enriquecer a análise, os fatos e reflexões feitos por Harari (2018) serão igualmente abordados. Portanto, resta-nos perguntar: IoT é mesmo um bem para todos?Downloads
Referências
ALBESHER, A. A. IoT in Health-care: Recent Advances in the Development of Smart Cyber-Physical Ubiquitous Environments. IJCSNS International Journal of Computer Science and Network Security, Riad, v. 19, n. 2, p. 3, fev. 2019.
ALDOWAH, H. et al. Internet of Things in higher education: a study on future learning. Journal of Physics: Conference Series, v. 892, p. 2, 20 jan. 2017.
BARBOSA, M. ‘Casa Conectada’ já é uma realidade no Brasil. Folha PE, [S.l], 20 abr. 2019. Disponível em:<https://www.folhape.com.br/economia/economia/economia/2019/04/20/NWS,102474,10,550,ECONOMIA,2373-CASA-CONECTADA-UMA-REALIDADE-BRASIL.aspx>. Acesso em: 11 out. 2019
G1. UnB cria pulseira para diabetes que mede açúcar e manda alertas via celular. G1 DF, Distrito Federal, 10 jan. 2017. Disponível em:<https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/unb-cria-pulseira-para-diabetes-que-mede-acucar-e-manda-alertas-via-celular.ghtml>. Acesso em: 10 set. 2019.
GUPTA, V. Shipping Container Monitoring. Vail Computer Elements Workshop IEEE Computer Society, 2012. 29 slides. Disponível em:<https://www.slideshare.net/benaam/shipping-container-monitoring>. Acesso em: 05 out. 2019.
HARARI, Y. N. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia Das Letras, 2018.
MAGRANI, E. A internet das coisas. Editora FGV, 2018.
SANTINO, R. Casa Inteligente já é possível no Brasil. Olhar Digital, [S.l.], 01 dez. 2018. Disponível em:<https://olhardigital.com.br/video/casa-inteligente-ja-e-possivel-no-brasil/80281>. Acesso em: 25 set. 2019.
TRIVINHO, E. A dromocracia cibercultural: lógica da vida humana na civilização mediática avançada. São Paulo: Editora Paulus, 2007.
WIKIPÉDIA. Sistema de Posicionamento Global. Wikipédia A enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_posicionamento_global>. Acesso em: 16 out. 2019.
ZANELLA, A. et al. Internet of things for smart cities. IEEE Internet of Things Journal, v. 1, fev. 2014.
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