YOUTUBERS MIRINS NA REDE: A PRODUÇÃO CULTURAL ON-LINE DA INFÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE

Autores

  • BRUNA SANTANA DE OLIVEIRA Mestranda no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS).
  • Gilson Pereira dos Santos Júnior Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS).
  • Everton de Almeida Nunes Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS).

Palavras-chave:

Youtubers mirins, culturas digitais, crianças, protagonismos infantis.

Resumo

Introdução As mudanças ocorridas nas cenas da contemporaneidade apontam de maneira acentuada a transformação da atuação das crianças na sociedade. Com suas práticas gradativamente atravessadas pelo acesso às tecnologias móveis digitais, as crianças brincam, compartilham, produzem conteúdo e aprendem com seus pares. Essas práticas ocorridas pela facilidade de acesso revelam a construção de novas formas de atuações na infância, mais que isso, pressupõe o reconhecimento das crianças enquanto protagonistas ativos de suas autorias nas redes. Essa imersão das crianças nas culturas digitais faz surgir formas de apropriação, edifica ainda processos de significação, uma vez que, a criança produz para si e os demais pares, tecendo novas formas de socialização, apreensão de mundo e produções culturais. Essa riqueza do cenário sociocultural abarca as crianças que estão progressivamente reivindicando seu espaço no universo on-line. É por meio dessa reinvindicação que nos ateremos com enfoque às crianças presentes na plataforma Youtube. Denominadas como produtoras de conteúdos os Youtubers Mirins produzem vídeos, criam narrativas para os roteiros, mostra seu cotidiano da escola, seus brinquedos, seus aplicativos favoritos, suas brincadeiras, momentos com a família e compartilham com os pares por meio da publicação de vídeos. Por isso mesmo, o presente texto é fruto parcial de uma pesquisa de dissertação do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS). Inspirada na etnopesquisa-ação (MACEDO, 2010) está alicerçada dos seguintes dispositivos de pesquisa: rodas de conversa, observação participante e diário on-line. Por isso mesmo, esta pesquisa em andamento tem como objetivo principal compreender as produções culturais das crianças na plataforma digital Youtube. 2 A relação das crianças com a plataforma Youtube: A necessidade de repensar a infância Hoje as tecnologias móveis digitais se fazem assiduamente presentes no cotidiano das crianças, reconstruindo sentidos das interações socioculturais da infância. Esse crescente contato das crianças com os dispositivos digitais, anuncia possibilidades significativas e nos revela desafios nunca antes imaginados, seja ele no âmbito jurídico, político, social, cultural e até mesmo nos processos educativos dos espaços formais e informais. Tudo isso é notável nas práticas ocorridas na plataforma digital YouTube, pois nela as crianças estão se destacando como atores sociais protagonistas de conteúdos próprios ou resignificados, o que não acontecia anteriormente quando outra geração de crianças tinham acesso aos conteúdos midiáticos apresentado na televisão. Atualmente as novas gerações dos Youtubers mirins apontam por meio de um acesso horizontalizado, como estão produzindo e escolhendo os conteúdos os quais querem ter acesso, rompendo com a linearidade de circulação dos conteúdos anteriormente estabelecidas pela mídia de massa. Em contraste, Buckinghan (2007) afirma como é crucial ouvir as crianças e os seus pontos de vista a partir de suas vivências. Sustenta ainda, que o conceito de infância não é algo estático, solidificando-se de forma mais marcante na relação das crianças com os dispositivos digitais. Por sua vez, Tomaz (2017) denota o ponto do seu contexto prático de pesquisa sobre as práticas dos YouTubers Mirins e como as interações das crianças na plataforma se constitui como um fenômeno da contemporaneidade, uma vez que, o mesmo demanda reconhecer a voz das crianças e seus espaços de atuações, ou seja, espaços os quais elas manifestam suas produções e ressignificam como veem a si mesmas e o mundo a sua volta. Sampaio (2019) por meio da metodologia de cunho etnográfico buscou dar voz às crianças participantes da pesquisa e durante toda a interação com as crianças coloca em destaque como as crianças acompanham fielmente canais do YouTube de outras crianças, já que nesses canais os YouTubers mirins compartilham algumas experiências com os familiares, ensinam brincadeiras, como manusear alguns brinquedos, mais que isso, as crianças telespectadoras ao ter acesso a esses canais socializam os conteúdo que tem contato para suas interações cotidianas. Quintian (2018) destaca como o interesse central das crianças está em disponibilizar conteúdo para os pares, caracterizando uma reprodução interpretativa do contato com os adultos que fazem parte das culturas digitais. Corsaro (2011) define como reprodução interpretativa os modos como a criança se apropria do mundo adulto para produzir sua própria cultura. E essa reprodução não ocorre de forma passiva, como mera imitação ou reflexão do mundo adulto. E sim define o modo como as crianças se apropriam criativamente de informações dos adultos para produzir a sua própria cultura. Assim sendo, as crianças por meio da facilidade de acesso aos dispositivos móveis digitais e também do contato com os adultos inseridos nas culturas digitais, reconstrói suas formas de ser e estar no mundo dando novos sentidos sobre os lugares que ocupa. Essas dinâmicas produzidas pelas crianças podem ser reconhecidas como forma de empoderamento sobre os discursos de passividade intrínsecos na sociedade, complementa Orofino (2015). Tendo como sua principal missão “dar a todos voz e revelar o mundo” , a plataforma Youtube se tornou espaço central de empoderamento dessas crianças, ou seja, elas estão construindo novos cenários, de contrapartida a classificação enquanto passiva perante as tecnologias móveis digitais. Fantin (2015) ressalta a importância desse empoderamento da criança no acesso às redes e à medida que é fulcral dar atenção as competências desenvolvidas, em vez de desconsiderá-las. Tudo isso revela como as pesquisa com crianças que envolvem comunicação e educação estão em meio a um fogo cruzado das pesquisas acadêmicas, pois de um lado temos uma visão totalmente pessimista de diferentes áreas que buscam proibir de maneira radical, por outro lado, estão surgindo pesquisas que buscam ouvir as perspectivas das crianças enquanto atores sociais que necessitam ser ouvidos (OROFINO, 2015). Articulado a isso, Tomaz (2017) acrescenta o quanto as crianças perderam espaço nas emissoras abertas , ou seja, ocorreu uma diminuição de algumas programações infantis e até mesmo o fim de muitas delas. À medida que as crianças vão perdendo espaço, isso faz com que criem outras estratégias de acesso aos conteúdos midiáticos, a exemplo, os conteúdos do próprio YouTube. Sob o mesmo ponto de vista ao explorar este universo, o presente trabalho destaca a relevância de compreender como estão ocorrendo a produção cultural da infância imersa na plataforma Youtube. Além disso, ressalta os atravessamentos que vêm à tona diante de assunto considerado tão polêmico que é as crianças utilizando as redes sociais, evidenciando um maniqueísmo sobre as culturas digitais na infância. Conclusão Com base nas discussões apresentadas, pensar as crianças das culturas digitais requer pensar em transgressões epistemológicas e metodológicas de pesquisa, em meio ao fogo cruzado que ela se encontra, pois as crianças estão assiduamente presentes nas redes, ressignificando processos de construção social da infância e do que é ser criança na contemporaneidade e precisam ser ouvidas de suas próprias perspectivas. Com isso o presente trabalho destaca os Youtubers mirins e como eles anunciam uma emergência da infância na contemporaneidade, uma vez que, estão atuando e contribuindo com a produção das culturas digitais não apenas para si, mas também para os seus pares. Compartilhar brincadeiras, dia a dia na escola, aprendizagens e experiências do cotidiano com a família, são elementos comuns de produção audiovisual das crianças na plataforma, além disso, estão engendrando uma miríade de produções simbólicas estruturando novas formas de pensar e conceber a infância. Portanto, não é possível mais segregar a criança dos processos comunicacionais, pois as tecnologias móveis digitais são cada vez mais presentes em seu cotidiano. Entretanto, é importante ressaltar que temática também abrange discussões mais complexas não abordadas aqui, como: termo de uso das plataformas, a visão mercadológica de lucro voltado para infância, captura de informações pessoais, dentre outros aspectos. Essas medidas devem ser analisadas de forma profunda, levando em conta as vivências e experiências das crianças, sobretudo, ouvir suas vozes que aclamam por reconhecimento de suas autorias nas culturas digitais.

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Biografia do Autor

BRUNA SANTANA DE OLIVEIRA, Mestranda no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS).

Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGED da Universidade Federal de Sergipe/UFS. Bolsista CAPES. Graduada em Licenciatura em Pedagogia com Habilitação em Docência e Gestão pela Universidade do estado da Bahia, UNEB. Especialista em Metodologia de Ensino de Filosofia e Sociologia e em Gestão Educacional. Lecionou algumas disciplinas no Ensino Médio, no Colégio Estadual Carlina Barbosa de Deus, bem como aulas de reforço para provas de vestibular para os alunos do ensino médio, e também lecionou na UPT-Programa Universidade para Todos, UNEB, Campus VIII. Membro do grupo de pesquisa em Formação de Professores, Educação e Contemporaneidade (FORPEC/UNEB/CNPq) e do grupo Educação e Culturas Digitais (Ecult/UFS/CNPq) Tem interesse por pesquisas que dialogam nas seguintes áreas: Educação e Comunicação, Aprendizagens infantis nas Culturas Digitais, processos culturais da contemporaneidade, culturas digitais, educação a distância,currículo, integração curricular das TDIC, atos de currículo, Sociologia da infância, bem como Sociologia e Filosofia em diálogos com os processos educacionais .

Gilson Pereira dos Santos Júnior, Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS).

Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS). Mestre em Ciência da Computação (UFCG). Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Tiradentes (UNIT). Professor da Coordenadoria de Sistemas de Informação do Instituto Federal de Sergipe (IFS). Integrante do Grupo de Pesquisa em Educação e Culturas Digitais (E-Cult).

Everton de Almeida Nunes, Doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS).

Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Mestre em Comunicação pela UFS, possui graduação em Comunicação Social - Radialismo e está cursando a graduação em Licenciatura Teatro na mesma instituição de ensino federal. Foi professor do Departamento de Dança da Universidade Federal de Sergipe; instrutor de artes pela Prefeitura Municipal de Aracaju. É também jornalista exercendo a função de diretor de Comunicação do Fotoclube Siri Na Lata e do Rolê de Notícias trabalhando com jornalismo online. É repórter fotográfico e cinematográfico profissional. Foi educador Social pela SEMASC de Aracaju, professor de Interpretação e Expressão Corporal pelo SESC/SE e Coordenador de Jornalismo da Rádio UFS FM. Possui conhecimento em Libras. Paralelamente à formação acadêmica está inserido no cenário artístico e cultural de Sergipe há mais de duas décadas. Em decorrência da contribuição dada às artes cênicas, integra o memorial do teatro sergipano. É produtor, diretor e coreógrafo e bailarino da Espaço Liso Cia. de Dança, além de exercer as funções de ator, dramaturgo, figurinista do diretor do Coletivo Teatro de Mala. Foi professor nas principais escolas de dança de Aracaju, dentre elas a Studium Danças, Passo a Passo, Adággio, Espaço Contempodança e Academia Sergipana de Ballet. Já trabalhou com diversos grupos de teatro de dança de Sergipe, estando na concepção e direção de espetáculos representativos. Hoje é coordenador de comunicação do SATED/SE e membro da comissão organizadora do FÓRUM SERGIPANO DE ARTES CÊNICAS. No audiovisual tem realizado curtas-metragens que já foram premiados, desse modo, acumula experiência com roteiro, direção de arte, direção de elenco, direção de fotografia, produção, direção de arte e direção geral.

Referências

BUCKINGHAN, David. Crescer na Era das Mídias Eletrônicas. Edições Loyola, São Paulo, 2007.

CORSARO, Willian. Sociologia da Infância. Porto Alegre: Artmed,2011.

FANTIN, Monica. Criança, Consumo e Publicidade: Linguagens, Percepções e Re-Interpretações. In: XXXVIII Congresso Brasileiro De Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro-RJ, 2015, anais, Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2015. p.1-16.

MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa crítica/Etnopesquisa-formação. Brasília: Líber Livro, 2010.

QUINTIAN, Kandice Van grol. Youtubers mirins: crianças, práticas de consumo midiático e produção audiovisual no contexto digital. 2018. 142 f. (Mestrado em comunicação e informação)- Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS, Porto Alegre, 2019.

OROFINO, Maria Isabel. O ponto de vista da criança no debate sobre comunicação e consumo. Revista Latino americana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, pp. 369-381, 2015.

TOMAZ, Renata. O que você vai ser antes de crescer? Youtubers, Infância e Celebridade. 2017. 232 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicação, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, Rio de Janeiro, 2017.

SAMPAIO-S, Joseilda. Brincar em tempos de tecnologias digitais móveis. 2019. 471 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019.

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Publicado

2020-04-13

Como Citar

OLIVEIRA, B. S. D., Santos Júnior, G. P. dos, & Nunes, E. de A. (2020). YOUTUBERS MIRINS NA REDE: A PRODUÇÃO CULTURAL ON-LINE DA INFÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE. II Encontro Regional Norte-Nordeste Da ABCiber, (1). Recuperado de https://eventos.set.edu.br/abciber/article/view/12701

Edição

Seção

Educação e Comunicação na Cibercultura