Interdisciplinaridade e Interação em Ciências da Natureza: estratégias pedagógicas no contexto do EMITec.
Palavras-chave:
Ciências da Natureza, EMITec, interatividade, interdisciplinaridade, interação.Resumo
As novas propostas educativas associadas à inovação pedagógica em sala de aula devem estar inseridas no universo da cibercultura através de redes educacionais, diante das facilidades encontradas na elaboração destas e, permitindo assim, uma maior expansão e interação das ações de forma inovadora e inventiva. Na educação contemporânea, os docentes precisam desenvolver estratégias pedagógicas que contemplem os espaços ampliados da rede, de forma a potencializar o ensino, principalmente em se tratando de uma modalidade híbrida. Concordamos com Alonso, quando afirma que “quando tratamos de processos comunicacionais, que se estabelecem através do uso das tecnologias da comunicação, a interatividade é considerada sempre como uma das principais vantagens do ensino” (2000, p.96). E ainda, “a prática do docente não deve se limitar apenas a transmissão do conteúdo, mas na interatividade com o aluno, tendo-o como sujeito ativo, capaz de aprender e refletir criticamente sobre sua aprendizagem” (MARIA; OLIVEIRA, 2013). Neste trabalho, entendemos cibercultura como “a cultura contemporânea mediada pelas tecnologias digitais em rede no ciberespaço e nas cidades” (SANTOS, 2011). Sendo assim, para o favorecimento do diálogo nessa cultura digital, é necessário fortalecer estratégias que promovam a interatividade, que segundo Levy refere-se, “a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação” (2000, p.79), ou seja, ações que permite uma comunicação mais ativa entre os sujeitos, na qual reforçamos nas palavras de Silva, quando afirma que a “interatividade é um princípio do mundo digital e da cibercultura, isto é, do novo ambiente comunicacional baseado na internet” (SILVA, 2010, p.1). Pautado nesses conceitos, buscou-se neste relato, relacionar a interatividade proveniente das ações e interações com o cotidiano do aluno de modo a fazer conexões com a realidade dos mesmos, relacionando-a com os conteúdos das aulas de Ciências da Natureza de forma interdisciplinar, buscando maximizar o processo de interatividade. É neste contexto que surge o EMITec (Ensino Médio com Intermediação Tecnológica) uma modalidade de ensino da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, que apresenta uma metodologia voltada para o ensino por intermediação tecnológica que busca levar o Ensino Médio às localidades onde não existe esse nível educacional. Os alunos, geralmente campesinos, moram em localidades distantes ou de difícil acesso em relação a centros de ensino e aprendizagem, onde não há oferta do Ensino Médio (SANTOS, 2015). Através da mediação pelas tecnologias, as aulas que ocorrem ao vivo, diariamente, são transmitidas por vídeo-streaming, utilizando o software IPTV, possibilitando a integração de multimídias (som, vídeo, imagem) durante as aulas (SANTOS, 2014). Além das aulas disciplinares nas unidades letivas, cada área do conhecimento organiza uma aula interdisciplinar, na qual permite associar os conteúdos com o tema transversal, que é eleito anualmente para cada unidade, facilitando assim a aprendizagem e consequentemente, auxiliando o discente no processo avaliativo que também acontece por área. Uma forma de avaliação do EMITec é a realização da atividade dirigida (AD) que são atividades de caráter lúdico, que associa a teoria à prática (SANTOS, 2016). Neste sentido, tem como concepção estruturante a construção do conhecimento mediante um trabalho investigativo, cooperativo, colaborativo e de integração de grupos, onde os alunos desenvolvem atividade de pesquisa, desenvolvimento e execução de ações pré-programadas, contextualizando com saberes da localidade na qual pertencem. Como atividade final avaliativa, os alunos realizam uma socialização dos trabalhos realizados, o que chamamos de culminância. Fazendo um recorte para este trabalho, utilizamos como objeto de investigação a interatividade encontrada durante a interação com os alunos na aula interdisciplinar da área de Ciências da Natureza, durante a segunda unidade letiva do ano de 2019. O tema trabalhado foi “Bahia: territórios de identidades”, na qual teve como vertente discutir sobre os 27 territórios de identidade do estado da Bahia. Este é definido como “espaço físico, geograficamente definido, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como: o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, apolítica e as instituições” (BAHIA, 2007). A aula interdisciplinar ocorreu no mês de agosto de 2019, após a culminância da atividade dirigida, onde os saberes, narrativas, imagens, vídeos dentre outras produções realizadas pelos alunos também puderam ser utilizadas como propulsoras de diálogos, propiciando assim, as interações nos chats das aulas. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo principal relatar uma experiência com as aulas interdisciplinares envolvendo os componentes curriculares da área de Ciências da Natureza do contexto do Ensino Médio com Intermediação Tecnológica. Para atingir esse objetivo, buscou-se também: a) identificar as principais atividades desenvolvidas em sua localidade e; b) estimular a participação dos discentes do EMITec, na produção de saberes voltados para sua comunidade de forma a fortalecer a identidade local através da interatividade. A relevância deste trabalho é mostrar que as aulas interdisciplinares promovem a união dos docentes em torno do objetivo comum na formação dos indivíduos. Neste aspecto a função da interdisciplinaridade é apresentar aos alunos possibilidades diferentes de olhar um mesmo fato sobre diferentes abordagens. A metodologia utilizada foi a análise de uma aula dialógico-participativa, que permitiu provocar interações entre os alunos durante a exposição dos conteúdos na aula interdisciplinar de Ciências da Natureza do EMITec. Procuramos enfatizar o contexto sócio-ambiental dos 27 territórios de identidade do estado da Bahia, no qual os alunos iam participando do chat, bem como interagindo através de um questionário utilizado pela própria plataforma de IPTV, que indicava os seguintes questionamentos: Qual a sua percepção sobre o tema da Atividade Dirigida? Qual o setor que mais identifica o seu território? De que forma a sócio-biodiversidade está presente em seu território? Quais atividades, individuais e/ou coletivas, estão sendo desenvolvidas para fortalecer seu território? Através dessas questões ocorreram os diálogos entre as interações pelo chat da aula interdisciplinar. Os resultados demonstraram que sobre a percepção da atividade dirigida realizada, a maior parte dos alunos considerou importante, pois tiveram a oportunidade de reconhecer o seu próprio território, bem como o de conhecer um pouco sobre os outros territórios da Bahia. Em relação ao setor de identidade na qual melhor identifica a sua localidade, a maioria dos alunos, citou os setores de agropecuária e alimentícia em um contexto geral como sendo os mais relevantes. No contexto da questão da sócio-biodiversidade os resultados oscilaram bastante, porém a grande maioria relatou desenvolverem atividade com o setor de produção e de extrativismo sustentável como por exemplo a extração do buriti, do dendê, do sisal, do leite de cabra, da palha da piaçaba, do coco, dentre outros produtos. Em relação às atividades coletivas, os docentes, através do chat responderam sobre a economia solidária que lhes oferece autonomia inclusive na zona rural onde o forte é a agricultura familiar para garantir a segurança alimentar e incremento da renda, outros são garimpeiros e vaqueiros. Concluímos que a interatividade é um fator importante na interação entre os alunos, bem como no diálogo docente, fortalecendo as identidades e do protagonismo dos jovens campesinos, sendo um fator importante para futuras investigações.Downloads
Referências
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