DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EDUCAÇÃO: TECENDO APRENDIZAGENS DENTRO-FORA DA ESCOLA
Palavras-chave:
Aprendizagens, Autoria, Criatividade, Ensino, SmartphonesResumo
A evolução das tecnologias da informação e comunicação, especialmente a partir do advento da internet, tem fomentado mudanças em todos os campos sociais, delineando novas dinâmicas nas relações humanas. Considerando esse pensamento, os dispositivos móveis, em especial os smartphones, têm contribuído cada vez mais para que a sociedade contemporânea se mantenha conectada, ampliando o acesso à informação disponibilizada virtualmente e, portanto, permitindo que sejam estabelecidas novas interações permeadas pela conectividade, mobilidade e ubiquidade (SANTAELLA, 2010). Contemporaneamente, é possível perceber que os smartphones são utilizados com muita propriedade pelos praticantes culturais nas mais variadas situações cotidianas, sendo considerados, inclusive, como extensão do próprio corpo (MCLUHAN, 1995). Trata-se, na verdade, de dispositivos que possibilitam e potencializam a criação de novos formatos de comunicação e interação, bem como o compartilhamento de sentidos construídos pelos próprios praticantes em seus espaçostempos (SANTOS; CARVALHO, 2018). Em contrapartida, em contextos educativos, é muito comum a escola desconsiderar as potencialidades dos smartphones nos processos de ensino e aprendizagem. Mesmo com o crescimento tecnológico que permeia as últimas décadas, observa-se ainda uma certa resistência por parte de professores e até mesmo diretores que, ao invés de incentivarem o uso dos dispositivos digitais nas práticas de sala de aula, fazem o caminho inverso, ou seja, proíbem, preservando o movimento analógico do ensino. Por analógico entendemos um movimento em que o processo se dá de forma fixa, limitada e não plural. Por outro lado, também há professores que, em busca de reinventar as suas maneiras de fazer (CERTEAU, 1998), encontram nos smartphones a possibilidade de promover a interação dos alunos e, ao mesmo tempo, diálogos com os conteúdos trabalhados, desenvolvendo práticas que mobilizam os alunos para novas experiências aprendentes. Sobre esse assunto, Alves e Porto (2019, p. 15) afirmam que, na sociedade digital em que nos encontramos, “os artefatos tecnológicos da Cibercultura oferecem vantagens que podem ser incorporadas na ação docente e no desenvolvimento de uma formação mais efetiva”. A partir do cenário apresentado, portanto, o presente estudo busca compreender como são potencializadas as práticas de sala de aula mediante a interação entre os alunos e seus próprios smartphones em um processo de criação audiovisual. Compreender as potencialidades desses dispositivos “a partir do entendimento de como melhorar aproveitar as potencialidades tecnológicas da Cibercultura em sala de aula para apoio didático-pedagógico nas práticas docentes” (ALVES e PORTO, 2019, p, 11) tem sido o ponto de partida para a incorporação das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem, perspectiva que articula as áreas da educação, comunicação e tecnologias digitais. Diante disso, para este estudo, nos serviremos das discussões de Santaella (2010), Santos (2012, 2018), Alves e Porto (2019), Lemos (2009), dentre outros, os quais constituem as bases teóricas para nossas reflexões. Por conseguinte, as discussões propostas neste artigo têm como sujeitos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, tendo como espaço de pesquisa uma escola pública do município do Itapicuru/Bahia. A produção dos dados se deu pela imersão em uma prática de sala de aula mediada pelo smartphones, envolvendo a disciplina de História. Nesse contexto, os dispositivos de pesquisa constituídos foram: produção colaborativa de vídeos, diálogo com os alunos e aplicação de questionário. Como forma de análise dos dados, foram utilizadas as noções subsunçoras, categorias analíticas que emergem da interpretação dialógica entre teoria e prática (MACEDO, 2010). Nota-se, portanto, que a presente pesquisa dialoga com a epistemologia das práticas e, portanto, utiliza-se da abordagem multirreferencial (ARDOINO, 1998), uma vez que os fenômenos educativos são plurais e heterogêneos. À vista disso, são tecidas reflexões sobre as potencialidades que advêm dos dispositivos móveis, com os quais os alunos vivem em constante interação e co-criação, ou seja, seus smartphones. Para Alves e Porto (2019, p.15) “[...] as práticas contemporâneas ligadas às tecnologias da Cibercultura têm configurado novas forma de compartilhar, receber, produzir e armazenar a informação e o conhecimento” (ALVES e PORTO, 2019, p. 15). Dessa forma, docentes implicados com uma aprendizagem efetiva e congruente com a geração “conectada”, se apropriem cada vez mais dos modelos interativos e colaborativos, bem como autorais. Outrossim, é importante reconhecer que produzir vídeos sobre determinado conteúdo não exige simplesmente a habilidade da edição, ou seja, não pressupõe apenas conhecimentos técnicos. Os alunos investigam sobre a temática, discutem ideias, esquematizam caminhos, construindo assim seus próprios sentidos. Essa dinâmica dialógica e autoral transforma os alunos em sujeitos aprendentes que, ao fazerem uso de seus smartphones, vivenciam experiências educativas próximas a sua realidade cotidiana, motivando-os a produzir conhecimento e, inclusive, desenvolver criticamente seu pensamento, tendo o professor enquanto mediador do processo, ou seja, aquele que provoca, orienta e contribui para o desenvolvimento de seus alunos. Como o espaço da sala de aula é também um espaço multirreferencial de aprendizagens, buscou-se fomentar nos alunos reflexões importantes não apenas para sua formação curricular, mas também humana. Dentro desta ótica, Júnior (2017, p. 41) ressalta que “o método tradicional não é mais suficiente e o uso correto do smartphone em sala de aula por meio de aplicativos pedagógicos pode auxiliar positivamente o professor no processo de ensino e aprendizado”. Embora concordemos com a ideia de os aplicativos presentes nos smartphones auxiliarem o processo de ensinar e de aprender, não se trata de considerar o uso correto ou incorreto. O que precisa ocorrer, na verdade, é instituir formas em que o uso dos dispositivos móveis e de seus aplicativos potencializem aprendizagens em um processo ativo e reflexivo, distanciando-se cada vez mais de metodologias que tendem a mecanizar a participação dos alunos e se aproximando de práticas criativas e autorais. Pensar nestas redes hipermidiáticas e hipertextuais e nos processos criativos e inovadores dos espaços de aprender como ambientes que possam trazer novas e significativas contribuições para o processo de construção de conhecimentos nos obriga a repensar as práticas pedagógicas como pedagogias da comunicação mais abertas e flexíveis que possam considerar estes espaços, entre outros, como espaços de saberes de cada aluno. (LINHARES; FREIRE; ÁVILA, 2017, p. 7). Nesta situação de aprendizagem, engendrada para o envolvimento ativo do aluno e, consequentemente, a construção de novos conhecimentos, evidencia-se que os alunos se mantêm em interação e comunicação contínuas, para além da sala de aula, devido especialmente à mobilidade possibilitada pelos smartphones. Para a comunicação, a mobilidade é central, já que comunicar é fazer mover signos, mensagem, informações, sendo toda mídia (dispositivos e ambientes) estratégias para transportar mensagens afetando nossa relação com o espaço e o tempo. (LEMOS, 2009, p.1). Nessa perspectiva, garante-se que a experiência vivenciada transcenda o espaço físico da sala de aula e, inclusive, as expectativas docentes e discentes, haja vista a multiplicidade de olhares, consolidada pelas colaborações e produções, demarcando, portanto, processos co-criativos e autorais.Downloads
Referências
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