Formação permanente de professores e mediação pedagógica: reflexões sobre o curso UPTE por professores da rede pública de ensino do Estado da Bahia
Palavras-chave:
TIC e inteligência coletiva, mediação pedagógica, formação permanente, práxis pedagógica.Resumo
Introdução Em tempos de Cibercultura (LÉVY, 1999; CASTELLS, 2005) e de processo educativo também se desenvolvendo no Ciberespaço (LÉVY, 1999), o advento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e/ou tecnologias digitais (TD) trouxeram mudanças significativas no modo contemporâneo de viver em sociedade e a escola não pode mais ficar à margem dos avanços promovidos por essas tecnologias. Nesse sentido, Lévy (2015, p. 15) apresenta “[...] que a invenção de novos procedimentos de pensamento e negociação que possam fazer emergir verdadeiras inteligências coletivas se faz urgente”. Logo, deve o professor aceitar o desafio de tornar as TIC/TD integradas ao fazer pedagógico e, a partir de um processo de negociação com os atores educacionais, promover espaços reflexivos sobre a utilização desses artefatos como meios que promovam a construção/propagação colaborativa de conhecimentos. Neste trabalho, um recorte da pesquisa de mestrado em estágio inicial, refutamos “[...] o conceito obsoleto de que a formação é atualização científica, didática e psicopedagógica do professor para adotar um conceito de formação que consiste em descobrir, organizar, fundamentar, revisar e construir a teoria [...]” (IMBERNÓN, 2011, p. 51), de forma permanente. Sendo assim, tendo como objeto de estudo o curso “Uso Pedagógico de Tecnologias Educacionais (UPTE)” (BAHIA, 2017), ofertado à maioria dos professores e coordenadores pedagógicos da rede pública de ensino do Estado da Bahia, no ano de 2017, e considerando o processo educativo na era cibercultural e a democratização do saber (CASTELLS, 2005) proporcionada por essa era, intentamos estabelecer relação entre a formação permanente do professor e a mediação pedagógica por meio do uso das TIC/TD em sala de aula e suas reverberações na consolidação da inteligência coletiva. Atualmente, em meio a toda gama de tecnologias disponíveis à sociedade, é inevitável pensar em processo educativo profícuo sem atrelá-lo ao uso das TIC/TD. Ponderando esse contexto, toma-se como marco inicial para o processo investigativo a seguinte questão de pesquisa: como as ações formativas desenvolvidas no UPTE contribuem para que o professor utilize as TIC/TD na mediação pedagógica voltada para uma práxis capaz de fomentar a inteligência coletiva em tempos ciberculturais? Objeto de estudo O curso de formação “Uso Pedagógico de Tecnologias Educacionais (UPTE)” e suas possíveis contribuições para a mediação pedagógica, por meio do uso das TIC/TD, com vistas à construção de uma inteligência coletiva com docentes do Colégio Estadual Necy Novaes, no município de São Domingos/BA. Objetivo principal Verificar as contribuições advindas do curso “Uso Pedagógico de Tecnologias Educacionais (UPTE)”, a partir de reflexões fomentadas pelo professor-cursista, e suas imbricações na mediação pedagógica enquanto práxis dinamizadora do conhecimento construído com a utilização das TIC/TD de forma colaborativa. Justificativa A realização desta pesquisa se faz pertinente e encontra relevância educacional e social em face da urgente necessidade de estudo sobre como os atuais cursos de formação para uso das TIC/TD estão sendo ministrados para professores da rede pública de ensino do Estado da Bahia e suas imbricações na mediação da prática pedagógica voltadas para potencializar a produção de conhecimento e/ou inteligência coletiva, sendo que esta última “[...] não é um conceito exclusivamente cognitivo. Inteligência deve ser compreendida aqui como na expressão “trabalhar em comum acordo [...]” (LÉVY, 2015, p.26); mas corresponde a um tipo de inteligência “[...] distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada e mobilizada em tempo real [...]” (LÉVY, 2015, p.31). Não há como opor-se à discussão que tenha como norte o nexo entre formação permanente e a atuação pedagógica do professor quando este usa TIC/TD no processo de ensino e de aprendizagem, especialmente quando tomamos como aspecto reflexivo a teoria e a práxis (HABERMAS, 2011), consubstanciadas na mediação pedagógica realizada com intenção formativa (LIBÂNEO, 2011) e a partir de uma relação comunicativa, cujo processo deverá culminar na construção de conhecimento a partir da engenharia da inteligência coletiva. Bases teóricas da reflexão ou análise O fulcro teórico deste estudo se alicerça, inicialmente, nas discussões sobre a formação permanente de professores (IMBERNÓN, 2016, 2011, 2010, 2009; LIBÂNEO, 2011, 2004, 2002) e na necessidade “[...] de uma pausa para refletir sobre as novas capacitações docentes e destacar entre elas as habilidades interpessoais, relacionais e comunicativas, entendidas como a faculdade de que os participantes da interação sejam capazes de explicar seus atos [...]” (IMBERNÓN, 2016, p. 99). Seguindo o sentido de verticalização do debate, debruça-se sobre como as TIC/TD se fazem imbricadas no construir e democratizar o conhecimento arquitetado nos fundamentos da inteligência coletiva (CASTELLS, 2005, 1999; LÉVY, 2015, 1999, 1993; KENSKI, 2012, 2003). Considera-se haver a existência, nesse processo de produção do conhecimento, de uma demanda de exame mais aprofundado sobre a mediação pedagógica (LIBÂNEO, 2011, 2004, 2002; D´ÁVILA, 2011; FONTANA, 2005) do professor, enquanto capacidade de orientação e interação com o aluno e como representação da sua práxis (HABERMAS, 2014) em sala de aula. Ademais, o perfil metodológico traçado para o estudo tem caráter qualitativo, tendo como método para a construção e a interpretação de dados a análise de conteúdo que, a partir das palavras de Bardin (2016, p.44), pode ser entendida como “[...] um conjunto de técnicas de análises das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição do conteúdo das mensagens”. Ademais, ao ser aplicada a situações comunicacionais diversificadas, a análise de conteúdo, em sua função heurística, “[...] enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão para a descoberta” (BARDIN, 2016, p. 35). Como dispositivo de pesquisa, optou-se pela realização de grupos de discussão (WELLER; PFAFF, 2010), promovido como espaço-tempo formativo, durante o período de planejamento das atividades pedagógicas, na própria escola. A partir desta investigação, tem-se como expectativa a produção de reflexões sobre implicações que cursos de formação docente oportunizam para a construção de uma prática pedagógica reflexiva, significativa, contextualizada e motivadora da aprendizagem contínua, levando-se em conta potencialidades inerentes às TIC/TD, que corroborem na consolidação da inteligência coletiva e na democratização do saber.Downloads
Referências
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