EDUCAÇÃO E CIBERCULTURA: A MUDANÇA É A ÚNICA CONSTANTE
Palavras-chave:
cibercultura, dromoalgoritmo-dependência, educação.Resumo
Este artigo é construído a partir de reflexões acerca das revoluções inéditas e incertezas radicais que a humanidade enfrenta, provocadas pelo avanço tecnológico do algoritmo e da Inteligência Artificial (IA), como ameaça constante à espécie humana. Contextualiza, também, a educação como processo de embate contra a forma dominante dos algoritmos em controlar a vida das pessoas, tornando-as irrelevantes em quase sua totalidade social. A base teórica dessa reflexão é o texto de Harari (2018) que integra o livro as 21 lições para o século 21, em que o autor trata das transformações e das incertezas radicais. Além das ponderações de Santaella (2019), no XII Simpósio Nacional da ABCiber, com o tema “Devires da cibercultura: políticas e práticas”. Esta pesquisa, de caráter bibliográfico, emprega uma abordagem dialética e investiga as relações presentes na realidade, materializadas a partir de determinantes históricos, políticos, econômicos, sociais e culturais. Diante das reflexões, infere-se que mudanças educacionais, são vitais para orientar a identidade do ser humano na conjuntura atual da sociedade. A mudança é a única constante: a sociedade dromoalgorítmica-dependente As mudanças no sistema social estão intimamente relacionadas com novas necessidades, novas formas de conflitos e novos interesses de quem domina os avanços tecnológicos. Portanto, a possibilidade de um outro mundo, significa que muitos dos problemas que persistem no atual processo de globalização, e os novos problemas que surgiram com ele, são desafios que a sociedade terá de enfrentar. Porém, para que estas soluções efetivamente se processem, alguns pontos não podem ser ignorados. Primeiro, os governantes e a sociedade civil organizada precisam ter em mente que qualquer ação deve levar em conta a complexidade do contexto atual, e, portanto, ações simplificadas/fragmentadas e ingênuas, não provocarão mudanças. Segundo, o entendimento, e principalmente a resolução das problemáticas coetâneas, não se faz com experiências, valores e conceitos caducos, desconectados da realidade histórica e ignorando/negando o ritmo das mudanças em curso. Terceiro, cada vez mais os indivíduos estão sendo considerados irrelevantes e sendo controlados pelos algoritmos e pela IA, conforme enfatiza Harari (2018). Se a sociedade caminha para o controle dos algoritmos sobre os humanos, podemos dizer, com base em Harari (2018) e em Trivinho (2007), que surge a sociedade dromoalgorítmica-dependente, ou seja, a sociedade cuja velocidade de aperfeiçoamento dos algoritmos vêm se constituindo em todos os setores sociais e comerciais para uma cultura global e dominante não só de controle, mas até mesmo de substituição dos humanos por máquinas. Nesse sentido, Harari (2018) faz menção aos algoritmos do big data como possíveis criadores de ditaduras digitais e manutenção da elite no domínio dessas tecnologias. Num tempo-espaço comprimido pelos novos meios de comunicação e pelas tecnologias digitais de informação e comunicação, intensificam-se os fluxos de informação e de pessoas, viabilizando o contato todos-todos e, principalmente, com diferentes maneiras de viver, pensar e sentir a vida. Por isso, na sociedade dromoalgorítmica-dependente, a educação é recolocada sob a forma de redes; cada espaço transforma-se numa rede de relações sociais complexas e entrelaçada por diferentes culturas. Sendo a sociedade globalizada um espaço que conecta todos os tipos de diferenças, ela amplia as possibilidades de comunicação interativa. Nesse sentido, a cibercultura emerge nesse contexto para aproximar as tecnologias da comunicação humana. Rudiger (2013) traz uma reflexão sobre a corrente epistemológica do conceito de cibercultura, enfatizando a necessidade de monitoramento crítico de sua manifestação na sociedade. Essa preocupação parte também de Lèvy (2010, p.17) quando conceitua cibercultura enquanto “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais) de práticas de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Pode-se, então dizer, que cibercultura é a cultura vigente de uma sociedade mediada por computadores em rede. Kellner (2001) propõe a interconexão entre cultura e meios de comunicação, ao afirmar que “não há comunicação sem cultura e não há cultura sem comunicação” (p.53). Entende-se que é preciso saber como ler, desconstruir, criticar e usar a cultura dos meios de comunicações para se defender do poder de manipulação da sociedade e da cultura existente. No entanto, faz mister uma rede educativa que seja crítica à produção e circulação das informações para a promoção não só da emancipação humana, mas da inteligência emocional para saber lidar com as mudanças que se apresentarem. Ressaltamos que vivemos em uma sociedade dromoalgorítmica-dependente, com presença maciça das tecnologias, orientada para a acumulação de conhecimentos. Assim, faz-se vital intervir nas inovações tecnológicas, reconfigurando-as para que sirvam aos interesses de emancipação e bem-estar humanos. Nesse sentido, as redes educativas precisam colaborar para o desenvolvimento da inteligência emocional, visto que caminhamos para espaços insólitos e precisamos estar preparados para enfrentar as incertezas (MORIN, 2005). Assim como a sociedade do conhecimento se realiza em redes, os projetos educacionais e socioculturais devem ter por base ações que nos ajudem a pensar o neo-humano (SANTAELLA, 2019). A referida autora aborda a preocupação do destino do humano enquanto espécie, pois as tecnologias, e em especial a IA, irão impactar como o ser humano vê a si mesmo, além de poderem alargar a economia, a cultura e a sociedade, sobretudo, a biologia humana e seus consequentes dilemas éticos. Educação e tecnologias: uma questão de alteridade A interdependência entre educação e a tecnologia tem causado problemas na vida das pessoas. Isto se explica devido a diversos fatores, entre os quais citamos a desvalorização do ser humano: no setor profissional, quando este é testado em suas habilidades e, muitas vezes, considerado irrelevante quando comparado à IA, por exemplo; na questão emocional, quando o ritmo das mudanças de ordem social e econômicas afetam o ser humano, deixando-o inapto a lidar com elas. No centro da formação do ser humano, encontramos a biotecnologia ajudando-nos a viver melhor, sem estresses e outros tipos de anomalias. Nesse sentido, inovar é mais importante do que reproduzir com qualidade o que existe. Freire (1983), já nos disse que é preciso ter consciência crítica e para haver condições de transformar o conhecimento para o benefício da sociedade, conferindo sentido para a vida das pessoas e para a humanidade, em prol de um mundo mais justo, produtivo e saudável para todos. Diante destas mudanças, a educação pode e deve interferir e interagir no processo de integração, difusão e apropriação das tecnologias visando à transformação das relações sociais e da saúde das pessoas. Para isso, é preciso pensar o avanço tecnológico, participando dele e de suas consequências de forma ética e responsável, influenciando e contribuindo para a construção da vida. Considerações A (des)ordem mundial que provocou (e está a provocar) mudanças, é muito diferente do sistema bipolar que prevalecia no mundo; as mudanças globais que se processaram nas estruturas econômicas, políticas, sociais, culturais e na vida cotidiana, tornaram bastante complexas as soluções para os problemas mundiais de segurança militar, econômica e ambiental; porém, acreditamos na possibilidade de outro mundo – lúcido, cauto – mas, cientes de que a globalização atual não vai ser sucedida por uma versão paradisíaca. Um dos grandes problemas do sistema educacional brasileiro, é não ter sido projetado para a sociedade global. As influências desta sociedade colocam como exigência aos trabalhadores da educação, a adaptação à novos padrões de produtividade e competitividade em função dos avanços tecnológicos; a visão disseminada é do conhecimento como matéria-prima das economias modernas e que a evolução tecnológica vem afetando não apenas os processos produtivos, mas o próprio sentido da vida; tudo isso confronta a cultura das nossas instituições de ensino. Contudo, como forma de lidar com essas contradições, defendemos a necessidade de uma sólida formação para: a valorização do humano; o desenvolvimento de novos hábitos intelectuais de simbolização e formalização do conhecimento; o manejo de signos e representação; a preparação do indivíduo para uma nova gestão do conhecimento, apoiada num modelo digital, interativo e relacional. Isso exige seres que entendam a importância de subordinar o uso da tecnologia à dignificação da vida humana, como fruto de uma educação voltada para a democracia, amparada em valores, como: tolerância, respeito, cooperação, colaboração e solidariedade.Downloads
Referências
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
HARARI, Y. N. 21 LIÇÕES PARA O SÉCULO 21. Tradução Paulo Geiger. São Paulo: companhia das letras, 2018.
KELLNER, D. A cultura da mídia. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2010.
MORIN, E. Os sete Saberes necessários à Educação do Futuro. O método 1: a natureza da natureza. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Rev. Téc. Edgard de Assis Carvalho. 10. ed. São Paulo: Cortez; Brasília DF: UNESCO, 2005.
RUDIGER, F. As teorias da Cibercultura. Porto Alegre: Ed. Sulina, 2013.
SANTAELLA, L. Devires da cibercultura: políticas e práticas. In: XII Simpósio Nacional da ABCIBER. Porto Alegre: ABCIBER, 2019.
TRIVINHO, E. A Dromocracia Cibercultural: lógica da vida humana na civilização midiática avançada. São Paulo: Paulus, 2007.
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