DESAFIOS NA AVALIAÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA ATRAVES DO IPAQ EM POPULAÇÕES ETNICAMENTE DIFERENCIADAS: O CASO XAVANTE
Palavras-chave:
International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), atividade física, povos indígenas, epidemiologiaResumo
INTRODUÇÃO Um dos grandes desafios para os pesquisadores no campo da epidemiologia da atividade física é encontrar metodologias precisas, eficientes e de baixo custo. Dentro desse contexto, os questionários são preferidos pelos pesquisadores em diversos países. O International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) foi elaborado para promover padronização metodológica e permitir comparabilidade entre os estudos sobre atividade física. Mesmo sendo validado para uso em diversos países, incluindo o Brasil, existem debates sobre sua aplicabilidade em populações culturalmente diferenciadas. No Brasil, os estudos sobre atividade física em populações indígenas são praticamente ausentes, sendo um dos países com a maior diversidade étnica indígena no mundo, com mais de 300 etnias e 200 línguas indígenas. Dessa forma, é essencial que a aplicabilidade do IPAQ seja avaliada para uso em contextos indígenas locais. OBJETIVO Testar a confiabilidade do IPAQ em uma aldeia da etnia Xavante no Mato Grosso. METODOLOGIA Buscou-se entrevistar todos os indivíduos Xavante ≥ 18 anos de ambos os sexos residentes da aldeia Pimentel Barbosa, Mato Grosso. Foram realizadas três coletas de dados, uma em julho de 2010 e duas em fevereiro de 2011, as últimas separadas pelo intervalo de 7 dias. Antes da aplicação do questionário, foram treinados dois interpretes Xavante–português e realizada uma adaptação do questionário (recomendado pelo IPAQ) à realidade local. Esse processo consistiu em especificar exemplos de atividades moderadas e vigorosas realizadas no dia-a-dia dos Xavante para facilitar a recordação das atividades. Nas análises, o primeiro levantamento serviu como referência para o segundo que, por sua vez, serviu como referência para o terceiro. A concordância inter-observador foi avaliada utilizando o teste Kappa com valor-p de 0,05. RESULTADOS O número de observações válidas para as análises comparando o primeiro e segundo levantamento foi de 57 indivíduos e, para a comparação do segundo e terceiro, 121. Os valores do teste Kappa foram 0,292 (p=0,027) e -0,32 (p=0,727), respectivamente. O coeficiente Kappa comparando o primeiro e segundo levantamentos sugere uma concordância “razoável”, enquanto a comparação entre o segundo e o terceiro indica não concordância. A diferença entre as duas comparações pode ser atribuída principalmente à realização, exclusivamente durante o terceiro levantamento, de cerimônias intensivas associadas a ritos de iniciação dos jovens à vida adulta. Interpreta-se o resultado significante da primeira comparação como indicativo da aplicabilidade aceitável, mas não ideal, do IPAQ no contexto Xavante. Limitações da pesquisa incluem a pequena população, padrões de atividades que variam fortemente com a sazonalidade e desafios de entendimento intercultural por parte dos pesquisadores e participantes. CONCLUSÕES A aplicação do IPAQ entre os Xavante demonstrou que esse instrumento é adequado mas não ideal para capturar atividades físicas em algumas populações culturalmente diferenciadas. Sua aplicabilidade poderá ser aperfeiçoada através de maior comunicação entre pesquisadores e comunidade, com vistas a evitar competição entre a pesquisa e atividades comunitárias. Considera-se importante a investigação de outras metodologias complementares ao IPAQ, que possam contribuir para a melhor compreensão da dinâmica de atividade física entre os povos indígenas no Brasil.Downloads
Referências
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